08/03/07

Dia Internacional da Mulher

Em 1857, centenas de mulheres das fábricas de vestuário e têxteis de Nova Iorque iniciaram uma marcha de protesto contra os baixos salários e as más condições de trabalho, pelo direito a uma jornada de 10 horas. Na fábrica de tecidos Cotton, 129 tecelãs cruzaram os braços e paralisaram os trabalhos. Estava a ser feita a primeira greve norte-americana conduzida unicamente por mulheres. Violentamente reprimidas pela polícia, as operárias refugiam-se no interior da fábrica. Patrões e polícias juntam-se e mostram a sua força brutal, trancam as portas e ateiam fogo. Mulheres. 129 mulheres fechadas entre paredes. 129 mulheres vitimas de discriminação, de ódio, de sofrimento. 129 mulheres unidas pela luta, pela coragem. 129 mulheres asfixiam e morrem carbonizadas.

Em 1908, mais de 14 mil mulheres marcharam nas ruas de Nova Iorque. Marchavam com o slogan "Pão e Rosas" em que o pão simbolizava a estabilidade económica e as rosas uma melhor qualidade de vida.

No dia 28 de Fevereiro de 1909, comemorou-se o 1º dia Nacional da Mulher nos Estados Unidos. Em homenagem às operárias assassinadas, o 8 de Março foi proposto, durante o Congresso Internacional de Mulheres, em Copenhaga, na Dinamarca, em 1910, como Dia Internacional da Mulher. Foi oficializado pelas Nações Unidas em 1975.

O Dia Internacional da Mulher é um dia de muitas comemorações, muitas lutas.Recordemos a francesa Olympe de Gouges que, em 1791, reivindicava "o direito feminino a todas as dignidades, lugares e empregos públicos segundo as suas capacidades" como fazendo parte da Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. Esta mulher foi condenada à morte e guilhotinada em 1793 pelo castigo de "ter querido ser um homem de estado e ter esquecido as suas virtudes, próprias do seu sexo".Olympe de Gouges, defendia que "se a mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve ter poder de subir também à tribuna". Morreu no cadafalso. As associações foram nesse ano proibidas na França. As mulheres deixaram de poder ter a sua tribuna. Recordemos os milhares de mulheres que anualmente são vítimas de mutilação genital.

Recordemos os milhares de mulheres que são vítimas de agressão por membros das suas próprias famílias. Lembremo-nos daqueles que, como Balzac, defendem que "O destino e única glória da mulher é fazer bater o coração dos homens" ou " a mulher é uma propriedade que se adquire por contrato.é mobiliária porque a sua posse vale como título. Enfim a mulher não é, para falar precisamente, mais do que um anexo do homem".

Lembremo-nos de Charles Darwin que defendia que o cérebro das mulheres é menos desenvolvido do que o dos homens. Lembremo-nos da opinião do fundador do positivismo, Comte, que achava que não deveria ser permitido à mulher o acesso a funções de carácter económico ou social, por serem incompatíveis com a grandeza moral do sexo feminino: "O homem deve sustentar a mulher como lei natural da nossa espécie".

Lembremo-nos que não será possível concebermos um mundo livre, sem anularmos as distinções que estabelecem a superioridade ou inferioridade de qualquer dos géneros. O verdadeiro lugar da mulher, companheira ou não do homem, deve estar ao mesmo nível deste, económica, social e culturalmente. Stuart Mill em 1867, no Parlamento inglês, defendeu pela primeira vez o voto feminino: "Estou convencido de que as relações sociais dos dois sexos, que subordinam um sexo ao outro, em nome da lei, são más em si próprias e formam um dos principais obstáculos que se opõem ao progresso da Humanidade. Estou convencido de que essas relações devem ser substituídas por uma perfeita igualdade".

Diário de Odivelas, 8 de Março de 2004
Fernanda Carvalho

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