"Venho da terra assombrada,
do ventre da minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguem.
Só quero o que me é devido
Por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.
Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder.
Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.
Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.
Com licença! Com licença!
Que a barca se faz ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.
[poema de António Gedeão - Fala do Homem Nascido]
Fotos: Eduardo Sousa/Diário de Odivelas
1 comentário:
Este grupo tem futuro.
Tem futuro porque questiona o presente através da poesia.
A poesia toma a forma de mensagem, mensagem politica, social e cultural.
A poesia toma a forma de movimento, movimento de corpo, de alma.
A poesia toma a forma de um sorriso, de um grito.
A poesia toma a forma de querer mudança.
Fernanda C.
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